Sobre o mar e o interior

Nota do autor sobre o mar e o interior.

Tomás Olinda

6/25/20231 min read

Tomás Olinda, o mar e o interior, livros de contos
Tomás Olinda, o mar e o interior, livros de contos

Muito do que é possível fazer em literatura não é possível fazer na realidade: alterar o curso dos eventos, antecipar efeitos futuros, presenciar um acontecimento duas vezes. Os eventos reais seguem um curso definido, os efeitos se sucedem sem nossa interferência pessoal e o tempo ignora nossos caprichos. Ao reescrever, no entanto, esses poderes quase mágicos de intervenção ficam à mão do escritor. Afirmo isso porque este livro, escrito entre 2019 e 2021 e revisado até 2023, é filho da reescrita. Duas narrativas, embriões de romances, encolheram e se tornaram Trama sem portas e O mar e os cães. Outras histórias foram amalgamadas até que a junção das partes se unificasse solidamente. No restante, tomei distância e foi o tempo, grande roedor de palavras, que fez o trabalho da abreviação. Assim, os parágrafos foram afinando, soterrando páginas, minguando até desaparecerem com capítulos inteiros. Tanto melhor. Creio que esse processo resultou em histórias mais sucintas. De resto, se escolhi a Bahia como cenário, é mais uma espécie de maquete imaginária do mundo do autor, ou seja, um país pessoal, do que, digamos, a Bahia real. Trata-se de uma espécie de geografia de fábula, palco de textos onde transitam seres de papel. 

Agora o livro ganha um espaço no mundo. A relógio de papel o pôs no mar. E é como se eu finalmente pudesse dizer adeus a mais ou menos trinta pessoas que me fizeram uma visita. E lá se vão todos eles num barco para um lugar que eu não sei onde é. Sei que não voltarão. Desejo-lhes boa viagem. E cada momento que passa, vejo o barco ficar menor, menor, até desaparecer em minha memória. Volto para casa e deixar as portas abertas para novas visitas.